segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Okaasan



Quando penso no que mais sinto falta...
Penso na presença do abraço.
O abraço que me sufocava
que me prendia
que não me deixava respirar.

Quando penso no mais sinto falta...
Penso na presença da voz.
A voz que me acalmava
que me ninava
que não me deixava chorar.

Quando mais no que mais sinto falta...
Penso na presença da resposta.
A resposta que me apoiava
que eu podia até prever
que eu me pego até agora prevendo e imaginando qual seria.

Nos últimos anos comecei a esquecer esses pequenos detalhes.
As coisas começam a sumir da mente como fumaça.
E como se eu estivesse te perdendo mais uma vez.
A sua ausência é tão presente quanto teu corpo ainda vivo.

Às vezes me obrigo a recordar cada detalhe da minha infância.
Cada detalhe dos teus carinhos.
A cor e o brilho dos seus olhos.
A textura da tua pele, tem cabelo, teu perfume.
Raramente eu consigo.
A memória recente é latente e apaga as boas lembranças.

As lembranças vêm e vão.
São como o sol.
São efêmeras.
Como nós todos.
Só de passagem.



Simone Vieira Resende





domingo, 29 de dezembro de 2013

Só uma lembrança.




Ele tinha vinte anos.
Queria que tudo passasse rápido. Muito rápido.
Não queria mais se sentir criança.
Queria fechar os olhos e acordar sendo adulto.
Sem pais, sem faculdade, sem adolescência.
Só queria que o tempo se acelerasse.
Sentia que já sabia o que precisava saber.
Era um pouco louco e isso o motivava.

Ele tem quarenta anos.
Quer que tudo passe devagar. Muito devagar.
Não quer mais se sentir um adulto.
Quer fechar os olhos e acordar sendo jovem. 
Com pais, nos tempos da faculdade, na adolescência.
Só quer que o tempo passe mais devagar.
Sente que não sabe mais nada e adora não saber. 
É muito louco e isso sempre o motiva a ter vinte anos.

Não importa como esteja a vida, às vezes tudo parece só lembrança. 


Simone Vieira Resende

ANICCA






O Buda já dizia: tudo o que é/está condicionado é impermanente. 
Queremos ser felizes para sempre.
Queremos ter prazer para sempre.
Queremos nos sentir satisfeitos sempre. 
Tudo isso repetidamente.
Mas, isso não é possível. 
Já que tudo que está condicionado é impermanente. 
Esse nosso "querer" permanente é que nos faz sofrer. 
Mas, também faz de nós quem somos.
Bons, maus, mentirosos, ladrões, honestos, assassinos, amorosos...
A felicidade só se apresenta quando entendemos essa impermanência.
Tudo fica mais fácil quando aceitamos essa verdade.


Si.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sorrir por você







Que vai dar certo eu não tenho a menor dúvida, mas ter de esperar por isso é um treinamento de paciência extremamente válido, eficaz e...chato também.

Como muitas outras coisas na vida, a pressa de nada adianta. 
A ansiedade é inútil. 

Tudo tem uma hora certa para acontecer. Um saco!

O lado bom é que não temos mesmo que esperar e nem podemos. 
Aliás, não TEMOS QUE nada. 

O destino não se espera mesmo, se constrói.

Tudo bem, podemos fazer isso com paciência, prudência (ah, que difícil!) e muita atenção. 

Só não adianta se preocupar. 
Além de consumir energia importante, super necessária para se viver o presente e não o futuro, é tudo em vão.
A preocupação, assim como a culpa são dois dos sentimentos mais imbecis que alguém pode ter! 

Os dias ruins, assim como os bons, também chegam ao fim. 


Simone Vieira Resende

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Só porque é verdade





Face verdadeira.

Grande parte da realidade problemática é decorrente do exagero.

Não ter limites.

Nao ter constragimentos.

Ser dotada de uma vaidade espantosamente infinita.

Nenhuma autocrítica.

Acreditar que é intelectualmente superior.

Ser espaçosa.

Dar conselhos que são sempre aplicáveis na vida dos outros,

Estar sempre inventado uma viagem.

para fugir de si mesma.

para não expor a insegurança e a irresponsabilidade.

Aventureira nada, fujona sim.


Simone Vieira Resende caindo na real.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Pensando no agora


E agora?

A vida é simples: você faz coisas.

A maioria delas não dá certo.

Algumas dão certo. Você faz mais daquilo que dá certo. 

Quando dá super certo, vem alguém e copia.

Daí você faz outra coisa. 

O truque é sempre fazer outra coisa.

O caminho do sucesso e o caminho da a felicidade são duas faixas da mesma estrada.


E o preço do pedágio é ser sincero consigo mesmo.

Ainda pensando.

Ainda desapontada.

Mas, como tudo na vida...

vai passar.


Si






sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Gosto & Desgosto




Gosto dos filmes lentos.

Gosto de fotos de beijo.

Gosto de café com bolo.

Gosto de chá de camomila.

Gosto de comprar flores toda quinta-feira.

Os lírios são os meus favoritos.

Gosto de vermelho.

Gosto de encher a colher com calda de chocolate, brigadeiro mole ou nutella...colocar na boa...segurando a colher com a cabo para baixo perto do queixo e ficar segurando até tudo desmanchar na boca..com o olho fechado...aproveitando cada segundo daquele gosto.


Gosto do chocolate amargo e do café sem açúcar.


Não gosto de açúcar.

Não gosto de carregar peso.

Não gosto de limpar cortinas, mas gosto de janelas...gosto dos meus alunos.


Gosto de ensinar.

Gosto de ler.

Gosto dos livros lentos, que descrevem devagar e com detalhes.

Gosto de surpresas.

Guardo minhas fotos, cartões e recadinhos dentro dos meus livros.

Cada vez que abro um livro tenho uma surpresa, um sorriso de uma lembrança boa.


Gosto de escrever meus pensamentos e minhas emoções.


Tenho memória curta. Perdôo fácil. Sou generosa.


Coleciono pedras dos lugares onde já fui.


Gosto de ouvir a mesma música mais de 100 vezes.

Sou sincera a ponto de magoar.

Tento não mexer minha boca quando penso.

Procuro melhorar. Eu rezo.

Eu agradeço, mas também peço.


Eu tenho muitos amigos.

Eu gosto de banho de cachoeira.

Gosto das montanhas.

Gosto do cheiro do mato e da umidade da floresta.

Gosto de sonhar e de viajar.Eu acredito que há sempre mais.

Eu gosto de ensinar e dividir com todos as coisas que eu aprendo, invento ou tenho.

Mesmo com quem não conheço.


Eu sempre ajudo.

Sou desconfiada e demoro para construir minhas percepções das coisas.


Eu não acredito em competição. Acho que quando ela acontece é só pra me lembrar que há mais do que o suficiente para todos. Eu sou muito otimista e espero o melhor em todas as situações.


Tenho certeza que o melhor ainda está pra vir. Eu penso grande, muito grande, quero mais.


Sou agradecida por tudo, gosto de correr riscos, sem ser imprudente, sou imprudente.


Acho melhor ter sorte do que ser rica. Mas isso é pq tenho sorte, muita sorte.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Simplesmente porque eu posso.

Tristeza

O pensamento é poderoso sim.

Somos mesmo fruto do nosso pensamento.

Somos portanto seres complexos.

A alegria e a tristeza que sentimos são tão latentes e inerentes aos seres humanos como qualquer outro tipo de sentimento. Mas, temos mesmo que cultivar o pensamento positivo e tentar ficar feliz o tempo todo? Não. Isso não é real.

Procurar manter uma postura positiva perante a vida e ter expectativas de que o melhor pode mesmo acontecer é bom. É saudável. Mas, aceitar que você acordou triste um dia, simplesmente porque esse também é um sentimento, também pode acontecer. Isso não é um problema.

É normal ficar um pouco triste com as mazelas do dia-a-dia. Um divórcio, uma morte, uma separação, quando ficamos doente, com problemas de grana e mesmo assim sabemos que a vida vale a pena apesar de.

Não estou falando de depressão, isso sim é uma doença e precisa ser tratada. Estou falando sobre aceitar, entender e se perdoar por ter sentimentos que nem sempre são só de alegria.

A gente só precisa de LUCIDEZ. É ela que vai nos ajudar a ver tanto a realidade do pensamento positivo quanto a do negativo. Porque as duas estão encobertas pela neblina da ilusão.


Esse assunto me fez lembrar da felicidade e do amor do modo como pensado por Schopenhauer. Apesar de conhecido por suas ideias pessimistas, talvez, tenha sido um homem despudoradamente feliz.



Caricatura de Arthur Schopenhauer, por Wilhelm Busch.


Simone Vieira Resende

domingo, 17 de novembro de 2013

Filtros e muros

Percepção





É sobre observar e entender você mesmo e os outros.

Como um pediatra faz quando examina um pequeno bebê que ainda não sabe falar.

É como se esse médico tivesse poderes sobrenaturais. Poderes para saber o que o bebê sente, pensa e precisa. Puro exercício de percepção.

Assim como faz o pediatra, podemos nós também.

Mas, a magia não está na observação, mas no objeto observado.

O adulto dissimula, já tem filtros e consegue se esconder.
Constrói muros ao seu redor, se sufoca por vontade. É prisioneiro das suas escolhas.

É preciso aprender a olhar todos como bebês.
Você aprende a ler o corpo, a ler os gestos, a ler os olhos.

Os bebês não têm muros. Não têm filtros.
Eles ainda não foram construídos.  

São simplesmente felizes.

Simone Vieira Resende

A montanha russa da vida.

Renda-se!




A rendição é uma excelente maneira de compreender algumas emoções. 

Surrender! Eu senti na pele a descoberta. Alguns anos atrás em um passeio num parque de diversões, eu brinquei numa montanha russa. Até aí, tudo bem, nada demais. Quando saí do brinquedo senti meu corpo todo dolorido. Meus braços, meus pescoço, meus músculos! Era tanta força que eu fazia para me segurar e tentar me proteger que nem percebia que não tinha esse controle. Agora vejo que era minha vontade e tentativa de controlar a situação. Nós fazemos isso na vida o tempo todo, isso nos dá uma sensação de que estamos no controle, mas na verdade é uma ilusão. Observei as crianças que iam na montanha russa duas e três vezes, sorrindo, gritando, com os braços para cima e foi assim que percebi que a nossa vida é do mesmo jeito. Você tem mesmo de se render. Você não está no controle de tudo o tempo todo. Então decidi abrir meus braços. Mas, volta e meia me pego agarrada na corrimão da vida, como se assim pudesse me proteger e controlar tudo. Que bom lembrar que posso soltar as duas mãos nesse próximo looping!



Um forte abraço,

Simone Resende

simone@abesassessoria.com.br

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Queimada na fogueira

A caça às bruxas


Uma perseguição política e social que perdurou por quase três séculos. As bruxas daquela época não são diferentes das de hoje.





A explicação é bem simples.  Aquelas consideradas bruxas e enviadas para a fogueira durante a idade média e a idade moderna tinham mesmo poderes.  Não os sobrenaturais, mas os sensoriais. Pura questão de percepção.  Quando você convive com as mesmas pessoas durante muito tempo, a rotina se encarrega de deixar claro diante dos seus olhos de bruxa as mesmas atitudes, os mesmos pensamentos e formas de agir que só a mais poderosa força do universo é capaz de criar: a força do hábito. Sim. O hábito faz com que as pessoas pensem e  consequentemente ajam do mesmo jeito.  Foi exatamente essa  percepção que as bruxas do passado desenvolveram. Elas previam o  futuro, sabiam o que as pessoas iam fazer e sabiam o que elas estavam pensando. Prever o próximo passo de cada um e calcular o resultado das escolhas era coisa simples. Uma questão de percepção. Já pensou em quantas de suas ações e pensamentos se repetem do mesmo jeito todos os dias? Eu já. Observo os meus, observo os daqueles com quem trabalho e convivo. Sou bruxa quando sei quais serão os resultados, os choros, as reclamações, as alegrias, os obstáculos impostos por aqueles que venho observando, simplesmente porque eles se repetem em um mesmo ciclo over and over. Não é diferente comigo, não é diferente com você. Você é um pouco bruxa também. Para não ser queimada, muitas vezes o melhor é calar, mas nunca deixar de observar. 

Simone V. Resende

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O amor dura para sempre?


Será que essa ideia de que o amor dura para sempre é válida?

Não. 

Que bom que não. 




Minha mãe e meu pai foram casados por 55 anos.
O meu pai morreu.
Minha mãe resolveu fazer um curso para se distrair.
Ela fez uma oficina para escritores.
Escreveu um conto com 30 páginas onde falava da vida,
das pessoas, do trabalho, dos amigos e do amor.
Sobre o meu pai, que ela amava, escreveu três frases.
Nós nos conhecemos, 
precisei me mudar por causa do trabalho dele,
ele morreu.
Sim. 
Depois de mais de cinquenta anos de casamento.
Apenas três linhas.
O conselho dela para mim sempre foi:

"Toda a sua felicidade vem do seus amigos e do seu trabalho, dedique sua vida aos dois." 

Aprendi que o mais importante na vida são os amigos. 
As amizades devem sempre ser cultivadas.
O trabalho vai ocupar quase 90% do seu tempo, então escolha fazer o que ama.
Não se deixe levar pela ideia louca de que você tem de achar uma alma gêmea
e que só assim você será feliz para sempre. 
Não será. 
Caso já tenha esse relacionamento...

o segredo para mantê-lo é você se cuidar
e pedir que o outro faça o mesmo. 
Nunca queira ser uma pessoa só. 
Vocês não são.
Vocês são duas pessoas.

Simone


terça-feira, 30 de julho de 2013

Amor à primeira vista


Como vocês se conheceram?

Bem, foi no supermercado:

- Oi! Por favor, você sabe se isso aqui é um tomate?
- Oi! Não, não é. Isso aí é um caqui. 
- É bom?
- Sim, uma fruta gostosa.
- Você quer ir tomar um café comigo?
- Você tá me paquerando?
- Sim, tô. Acho que foi amor à primeira vista.
- Eu posso imaginar. Ninguém pega um copo de requeijão da prateleira como eu, né? 
- Sim. Me apaixonei. E eu nem gosto de requeijão.
- Não? Mas, eu gosto de café. 
- Sorte minha! 


Si

domingo, 23 de junho de 2013

Pode parecer piada...



E é.

Ele gostava dela, ela gostava dele.
Mas, eles ficavam longe um do outro.
Solução: parar de pensar na distância.

Quem consegue fazer isso primeiro? 
Ela claro. 
Sempre fria e distante.
Depois ele também.
Mas, só muito depois!
Na verdade a distancia é uma ilusão.
Parece paçoca. 
Esfarela e acaba quando você come.

A distância dá fome.
Que só passa com a presença.

Daí ele diz pra ela:

Não aguento mais essa distância!
Acabou!
Geladeira, agora você vai ficar no meu quarto!


segunda-feira, 6 de maio de 2013

A espiã



Hoje sou Brigitte,
É o que diz meu novo passaporte.
Acabei de recebê-lo.
nome impresso com tinta preta, brasileira.
Guardo o documento na bolsa.
Coloco um lenço na cabeça, não é um disfarce.
É um detalhe.
Meu contato aqui nessa cidade deve encontrar a moça com o lenço preto e cabelos longos.
Estou pronta.
Debaixo do casaco, minha winchester sente o cheiro do meu Chanel #5.
O trabalho vai ser rápido.
Recuperar o chip, eliminar o informante e voltar para a base.
Estou concentrada.
Mas, as lembranças da noite anterior não saem da minha mente.
Ainda sinto o olhar dele em mim.
Vejo o informante ao lado da caixa de correio.
Conforme o combinado.
Retiro o chip do seu bolso antes de vê-lo cair na calçada.
Dever cumprido.
Agora posso voltar para as lembranças de ontem.



Simone Vieira Resende
Histórias da vida real: oficina de memórias.
Estação das letras

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Domingo na praia


Mais um fim de semana de sol.
A rotina era a mesma de todos os domingos.
Fazer um barulho na casa para acordar o pai e a mãe.
Ficar espiando até eles se levantarem,
já de biquini, é claro.
Perguntar de sopetão: 
- A gente vai a praia agora?
- Calma, Marcela! Vamos esperar seu irmão tomar café.
- Mas, pai. Ele pode ir comendo o pão pela rua. Eu e a Mônica já estamos prontas.
E estavam mesmo.
As duas de biquini.
Cada uma puxando uma toalha. Havaianas nos pés.
- Podemos ir agora?
A mamãe vai mais tarde. Ela gosta de adiantar o almoço.
- Anda, pai! Vamos descer!
E lá ia o pai com os três pulando em volta dele no elevador.
Ainda não tinham de se lambuzar de protetor solar.
Não precisavam de brinquedos.
Era só areia e castelinhos.
O pai levava uma cadeira e o jornal de domingo.
Ficava de olho nos três e gritava para o Pedro:
- Cuide de suas irmãs!
- Meninas, deem a mão pro Pedro!
Era o domingo perfeito.
A praia de Copacabana.
Nosso quintal de casa.



Simone Vieira Resende

Foto de família.
Histórias da vida real: oficina de memórias.
Estação das Letras




segunda-feira, 8 de abril de 2013

Objeto


Eu moro numa caixa de plático transparente.
Toda semana saio de casa para trabalhar,
trabalho árduo, contínuo e pesado.

Evito que plantações de alface e couve cresçam 
descontroladamente pelos campos de unha.
Raramente saio do banheiro.

Mas, hoje se procurarem por mim não vão me encontrar.
Estou de férias.
Saí da rotina e do aperto.
Nada mais de pular de dedo em dedo, 
cortando um pedaço aqui e outro ali.

Às vezes penso: Por que ainda não inventaram outro jeito de fazer isso?
Talvez as crianças do futuro já vão nascer de unhas curtas.
Não vão mais precisar de mim.

Seria isso uma evolução da espécie?
Espécie sem unha.
Mas, que diabos é uma unha e por que cresce tão rápido?
Não sei. Ninguém nunca me contou.

Não deve ser coisa boa.
Tem sempre de ser cortada e depois lixada.
Eu conheço a lixa. 
Às vezes, ela fica comigo aqui na caixa.

Conversamos horas sobre a vida alheia.
Falamos da dificuldade que é trabalhar quando tem aquele esmalte
vermelho na unha ou aquela base transparente que nos pega de surpresa.

Não é uma vida solitária.
A pinça também fica na caixa com a gente.
Puxa pelo, mas conversa que é bom, nada!

Mas, voltando à evoluçào da espécie.
Será mesmo que vou perder minha utilidade e
ficar esquecido no canto do banheiro?
Duvido.
Vai ter sempre um pé por aí precisando dos meus cuidados.




Simone Vieira Resende

História da vida real: oficina de memórias.
Estação das letras

domingo, 7 de abril de 2013

Objeto 2


Fiquei cego.
Geralmente quando alguém começa a perder a visão
e precisar de óculos para ler é porque chegou aos 40 anos.
Não é o meu caso.
Não tenho nem 20 anos e já não vejo nada.
Nenhum óculos pode me salvar.
Antes quando minha visão era afiada e precisa,
eu cortava a unha da família. 
Hoje eu me aposentei.
Parei de trabalhar.
Fui substituído por outro com boa visão.
Que outra utilidade eu poderia ter?
Um peso de papel?
Não. Sou leve demais.
Um prendedor de cabelo?
Impossível. 
Não sou inoxidavel.
A ferrugem já corrói meu corpo e minha mente.
Tenho boas lembraças da família.
Daqueles que ainda têm unha que cresce.
Mas, que já não podem mais contar/cortar comigo.
Virei um ponto de referência.
Meu nome é: "esse não, tá cego. Pegue o outro."
Sinto que mais cedo ou mais tarde vou parar na lixeira.
Como estou cego, nem vou ver a diferença.
É o meu fim.



Simone Vieira Resende

Histórias da vida real: oficina de memórias
Estação das letras

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A festa


Sim, adoro fazer aniversário.




Minha festa está incrível.
Todas as minhas amigas estão preentes.
Até a Ana apareceu.
levou um caderno lindo, do tipo caderno do Augusto.
A Marcia está chamando muita atenção com seu vestido curto e salto alto.
Na mão, um embrulho pequeno.
Um par de brincos em formato de flor.
Lindo.
A lista de presentes cresce a cada minuto.
Um cope de vinho aqui, uma caipirinha ali.
Eu cheia de mimos.
Um chapéu de chuva com bolinhas, 
um cordão com pingente da árvore da vida.
Uma bolsa amarela.
Ah! Como é bom ser querida.
O melhor de todos os presentes e certamente a amizade cultivada.


Simone Vieira Resende

Histórias da vida real: oficina de memórias com Ana Letícia Leal.

Estação das letras

segunda-feira, 25 de março de 2013

Caderno de viagem

O meu melhor amigo


Eu janeiro desse ano comprei um caderninho de capa vermelha,
desses com pauta e capa dura, do tipo pequeno que é pra levar na bolsa.
Eu e o caderno fomos viajar nas férias.
Excelente companhia.
Durante o almoço ele sempre me acompanhava.
Passava para os outros a mensagem:
"estou ocupadíssima, não falem comigo."
Ficamos duas semanas nos curtindo,
até que na terceira semana encontrei outro amigo.
Agora de carne e osso.
Abandonei o caderninho de volta na bolsa.
Para resgatá-lo na próxima jornada.


Simone Vieira Resende

Histórias da vida real: oficina de memórias
Estação das letras


segunda-feira, 18 de março de 2013

A dor


Todos têm uma história, 
têm uma dor.
Gostam de mostrar a dor.
Gostam de falar dessa dor.
Como se falando dela, ela não pudesse ser esquecida.
Não é dor boa.
Mas, é dor cultivada.
Daquela que se acostuma e não se pode mais viver sem,
a dor é tudo o que se tem.

Simone Vieira Resende

Texto produzido na oficina História da vida real: oficina de memórias.
Estação das letras



segunda-feira, 11 de março de 2013

Memórias






Hoje, eu, a criança crescida,
olho para trás, me vejo menina,
no meu castelho nas montanhas,
protegida no colo da mãe.

Ontem, eu, mulher pequenina,
olho para frente, me vejo mulher,
longe do meu castelo, não mais protegida,
livre.

Simone Vieira Resende

Texto escrito durante o encontro na Estaçào das letras: Páginas da vida real: oficina de memórias.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Carnaval


Hula Hula!


Ela tinha exatos 7 anos.
Era uma havaiana.
Daquelas vindas de Honolulu mesmo.
Usava saia de flores, sutiã com a mesma estampa da saia.
Rosa. Tudo era rosa.
A estampa tinha flores azuis e vermelhas.
Na cabeça, ela tinha um lenço. 
Feito com o mesmo tecido da saia e do sutiã.
Ideia da sua avó, que costurou tudo com carinho.
A peça mais importante do modelito era o seu colar de havaiana.
Todo feito com flores de plástico rosa.
Ele dava duas voltas no pecoço.
A pose para a foto era especial.
Pose de açucareiro, duas mãos na cintura e sorriso no rosto. 



Simone Vieira Resende

História da vida real: oficina de memórias.
Estação das letras

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Escrever é esquecer.


Pessoa


Pra quem acordou toda Pessoa...

Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.


O Amor

O AMOR, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar p'ra ela,

Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há de dizer.

Fala: parece que mente...

Cala: parece esquecer...


Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar, 

E se um olhar lhe bastasse

P'ra saber que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar...




FP

Por Simone Calada

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Doação



Para aprender a dar e a compartilhar preciso aprender a dar e a compartilhar comigo mesma.
Só depois de me conhecer bem e saber do que gosto e quero é que poderei fazer o mesmo com os outros.

Foi com esse pensamento que decidi que só quero viajar sozinha.

Sim. Viajar sozinha é uma das melhores descobertas da minha vida.

Se a gente pudesse se ver por dentro, ver exatamente como somos. 
Nossa alma, nosso âmago, nosso interior.

Veríamos que somos TODOS iguais.

Lindos, claros e puros.

Ah, Se você soubesse. 

Muitas, muitas concessões. Várias.
Cada uma delas um exercício de paciência, uma doação da minha vontade pela vontade do outro.

Mas, ainda não é de coração.

Sentar em um restaurante ou em um café, tomar um copo de vinho, descrever o lugar em detalhes no meu caderninho.

Essa é a descrição de uma tarde maravilhosa de férias e muito mais desafiadora se você está sozinha e aberta às muitas possibilidades que a vida tem a te oferecer.