quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eu por eu mesma



Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?

FP


Há pesquisas científicas que comprovam: falar de si mesmo ativa a área do cérebro responsável pelo orgasmo. Então vamos gozar.

Eu, por eu mesma.


Conhece a ti mesmo. 

Qual tarefa seria mais simples e complicada ao mesmo tempo?

Eu sou entusiasmada com tudo, jovial, cordial, sou muito franca, sou direta, eu adoro pessoas, eu amo a liberdade e adoro cuidar dos outros. Contudo, quase sempre me precipito nas minhas conclusões, porque sempre acho que sei o que os outros estão querendo e pensando, daí quando num sei, invento, imagino e me precipito. Daí, eu fico um pouco deprimida quando estou ansiosa pra saber alguma coisa.

Como qualquer centauro, tenho muitas flechas. Sou sim, daquele tipo cheio de flechas e vivo galopando por aí. Atiro minhas flechas em muitos alvos distantes e vou galopando atrás delas, muitas vezes encontro as flechas que lancei, assim atinjo meus objetivos, mas muitas vezes fico completamente detraída pela paisagem interessante que se apresenta ao longo do meu caminho, é a vida me apresentando milhões de opções.

A melhor definição que já fiz de mim mesma é a de polvo. Tenho tentáculos e vivo querendo equilibrar um milhão de atividades ao mesmo tempo. Seja pelas flechas do centauro, ou pelos tentáculos do polvo, uma coisa é certa, são muitos os alvos que quero atingir. Eu miro as flechas com uma visão intuitiva em direção a algum alvo futuro e distante e gasto a maioria do tempo correndo atrás de uma flecha ou de outra. A grande questão é se eu almejei ou não as coisas verdadeiras. 

Será que vou conseguir encontrar alguma dessas flechas? Não importa. O que me interessa é o entusiasmo da visão e a fascinação da viagem. No final, o objetivo torna-se insignificante. Às vezes nem lembro como tudo começou.
Encaro a vida como uma aventura e uma busca. Busco o conhecimento, busco me informar, busco me instruir, busco o sentido da vida e pra mim, o verdadeiro sentido da vida é tornar a jornada tão interessante, variada e informativa quanto possível.

Reconheço que a chegada não é o principal. Eu posso ser digna e majestosa, quando esse papel é necessário. Mas como sou uma atriz consumada, assim como todas os professores o são, eu posso assumir qualquer papel para chegar ao próximo estágio da jornada.

O que me motiva são as minhas idéias. A possibilidade de algo novo e interessante a cada esquina: o tesouro a ser descoberto, o objetivo impossível de alcançar, o mistério inexplorado, o amor que escapou. As pessoas que ainda não conheço, as que já conheço mas ainda não entendo.

Eu tenho medo de perder alguma coisa boa ou ruim da vida se ficar estacionada no presente. Se ficar sem me mexer, se ficar apenas esperando ou deixando a vida me levar.
Sou extrovertida, muito falante e tenho uma bocarra gigantesca. O que não considero uma qualidade, pelo contrário. Adoro novidades, novidades eletrônicas, novidades de trabalho, da ciência, enfim, qualquer tipo de novidade.

Quando meu lado introvertido aparece, é verdade, sim! Eu tenho um lado introvertido! Ele se apresenta pra mim quando eu abraço um objetivo novo, mas geralmente tem a ver com a minha espiritualidade, com a minha filosofia de vida e com a minha nova visão política, ou um novo projeto criativo.

Como diz uma das minhas melhores amigas: “você me cansa, só de falar de tanta coisa que você faz!” É como se, de alguma forma, eu sentisse essas coisas mesmo antes de qualquer um falar sobre elas. Eu tenho uma capacidade incrível de fazer contatos certos no momento certo com as pessoas certas. Sempre foi assim, no trabalho, na vida pessoal, nas amizades, em tudo. Acredito que isso seja sorte sim. Alguns dos meus amigos pensam assim e falam isso pra mim: “nossa como você tem sorte!” Pra mim, isso não é só sorte, é trabalho e vontade e também um pouco do meu olho preciso para as oportunidades repentinas, meu "faro" intuitivo que é capaz de identificar um potencial ou uma possibilidade a trinta quilômetros de distância. Parece estranho, mas essa intuição, esse faro, nunca me deixou na mão.

Claro que um dos meus grandes inimigos sou eu mesma! Esse inimigo que vem de dentro de mim, se apresenta em forma de tédio. Nos últimos anos ele tem me deixado em paz. Tantas são as atividades em que me envolvo. Mas, o tédio é realmente um dos meus grandes inimigos, eu fico mesmo entediada facilmente. É por isso que preciso tanto dos meus queridos amigos, principalmente aqueles disciplinados e organizados, me falando sobre as vantagens do esforço disciplinado. Pra mim, bastaria fazer alguma coisa duas vezes, da mesma maneira, que o tédio já aparece. Daí minha dificuldade de viver em disciplina, seja uma dieta, uma rotina ou qualquer outra coisa que exija cadencia. 

Tenho muita dificuldade de economizar, de me organizar e no meu cofrinho você vai encontrar um montão de entusiasmo, mas poucos prêmios. Não guardo as coisas, guardo as sensações, as vivencias, as experiências. Para mim, o que vale a pena colocar no cofre é o entusiasmo da corrida e não o prêmio. Eu até ganho prêmios valiosos, mas gasto todos em cinco minutos, guardar pra que?

Tem coisas que me deixam louca. Posso fazer uma lista enorme de coisas que me enlouquecem, a minha capacidade auditiva infinita. Escuto tudo e fico irritada com certos barulhos.

Quando tenho que enfrentar ou me sinto cercada por limites! Isso me deixa louca. Ultimatos e limites me deixam a ponto de um ataque! Quando algum amigo, chefe ou qualquer um perto de mim percebe isso, já descobriu rapidinho meu ponto fraco. É uma forma fácil de me provocar! Uma garantia de provocação à resistência armada e certa! O que vai resultar numa explosão de indelicadezas e impaciências que nem os mais preparados conseguem aguentar.

A minha mente inquieta está sempre buscando horizontes inexplorados. Quando não consigo o que quero e fico frustrada, meu temperamento fica bastante explosivo, e é difícil me controlar. Daí, nem eu mesma me aguento!

Mas, quando o ar fica limpo outra vez, ninguém pode reclamar mais. Volto a ser a mais paciente e amável de todas. No entanto, às vezes, eu não entendo como os outros se sentem magoados com aqueles comentários horrorosamente rudes e honestos que eu faço. Todos oriundos daquela minha imensa bocarra que eu já mencionei anteriormente. Para os comentários que faço e para as reações que tenho, minha sensibilidade é paquidérmica! Ou seja, nula, nenhuma. Mesmo com toda minha generosidade e conhecimento, sou incrivelmente insensível e ingênua e se alguém me elogia da alguma forma, sabe aquela forma certinha, que só algumas pessoas sabem fazer? Eu fico toda convencida. Doce ilusão. Porque, agora com a experiência da idade, algumas vezes já consigo ter consciência disso. Mas, só às vezes.  


Meu coração é verdadeiro, eu sinto muito que preciso de um parceiro que me dê uma amizade genuína e muito espaço para respirar. Coisa praticamente impossível de encontrar nos dias de hoje. Quando eu ganho esse tipo de liberdade, não abuso dela. Claro que isso aprendi com o tempo. Dar valor à liberdade e a confiança que algumas pessoas depositam em mim. Mas, ainda preciso colocar isso em prática. Na verdade eu sou muito exagerada, mas não aguento os exageros dos outros. Detesto melodrama e inseguranças dos outros, me irrita muito e tenho pouca paciência para isso, mas sou a mais melodramática e exagerada de todas! 

Eu tenho a capacidade de aguentar grandes cenas dramáticas em um relacionamento - de contas, muitas delas são geradas por mim mesma – mas, não suporto dramas e choro. O mundo da segurança doméstica imutável tampouco é minha ideia de diversão. Mas ao mesmo tempo, admiro isso nas pessoas e muitas vezes busco isso nos outros pra poder me sentir segura.  
Quando meus amigos me perguntam onde, como e porque eu tenho tanta energia pra me atirar assim nas coisas que faço, eu penso: nossa será que eu sou assim mesmo? Então qual é essa questão tão grande que estimula meu espírito? Fácil de responder, é uma vontade de entender a vida, de compreender onde estamos todos indo e o porquê.

Eu procuro o grande significado por trás das coisas, correndo atrás das pistas de um grande quebra-cabeças que é muito difícil de ser solucionada em apenas uma existência! Acho até que NUNCA será solucionado (olha o exagero aí!) porque as peças estão sempre se multiplicando. Essa é uma tarefa enorme que vai durar toda a eternidade, ainda bem que agora sei que  a vida é eterna! 

Felizmente, eu tenho um forte senso irônico e uma visão um tanto quanto aguda. Tenho uma capacidade que considero muito boa: a de unir o ridículo ao sublime e achar isso ótimo!


terça-feira, 25 de novembro de 2008

Curando.

A solidão e a dor de 2007.




A minha amiga Babi, em uma tentativa de me distrair e me animar, como forma de retribuição pelo que fiz por ela quando do divórcio que a deixou em frangalhos, me emprestou  a biografia da Danuza Leão. Preciso mesmo de uma história que me inspire e ao mesmo tempo me tire desse mundinho doente em que me escondo agora...

Amei algumas partes do livro e escolho duas para reproduzir aqui:

“...posso ir ao restaurante que quiser, a qualquer hora, sem precisar de companhia para isso. A vida é assim mesmo: umas coisas vão piorando, outras melhorando, o passado já foi, o futuro não existe, vamos viver o melhor do presente e pronto. Mas, de vez em quando eu dou uma fugida paras duas cidades que não mudam nunca, Paris e Veneza, e lá sou despudoradamente feliz.”

Danuza Leão – Quase tudo: memórias

Que delicia dizer isso: eu sou despudoradamente feliz! Faz bem pro corpo, pra alma, pra mente, pra tudo!

“Melhorei em algumas coisas e piorei em outras, mas basicamente sou a mesma. Aceito melhor meus defeitos que considero apenas características, para ficar mais leve. Posso ser tirana e também muito dócil (quando quero), simpática ou insuportável, gosto de uma vida de rotina de saber precisamente o que vai acontecer no meu dia, e ser dona de mim, enfim. Mas, sei que sou capaz, de repente, de jogar tudo pro alto e mudar tudo – meus gostos, minhas preferências, minha personalidade. E quando tenho que tomar uma decisão repentina, sempre penso, e no fundo, por que não? E faço, claro. As vezes fico na dúvida: não sei se não tenho personalidade alguma ou se tenho muitas, tal a minha capacidade de me virar pelo avesso.”

Danuza Leão – Quase tudo: memórias

Nem precisa comentar. Eu sou realmente aquilo que sou agora e nada mais.

“para viver a dois e preciso fazer concessões, não estou em fase de fazer nenhuma e nunca consegui me livrar do meu maior defeito: a falta de paciência”. 

Danuza Leão – Quase tudo: memórias

Trabalhar muito, me conhecer tanto que a minha paciência será de longe uma das minhas maiores virtudes...

Planos pro futuro, sim, poucos, porém certeiros. 

Paciência, eu tenho.

Paciente, eu sou. 


Obrigada, Bárbara e Danuza.